Fonte: Fantástico. Siga o Link
Começou esta semana a "Rio+20", a Conferência da Organização
das Nações Unidas, que está discutindo os rumos do nosso planeta. E um dos
principais temas é a moradia. No último século, a população da Terra teve um
crescimento absurdo. Quintuplicou e chegamos aos 7 bilhões de habitantes. Mas
será que tem espaço para todo esse mundaréu de gente morar com dignidade, sem
destruir o meio ambiente?
Metade da população do mundo vive nas cidades. Até 2040, seremos 70%
nas áreas urbanas. Quando concentramos gente, precisamos criar infraestrutura,
água, esgoto, energia, habitação digna.
Na maioria dos países, urbanização e favelização andam juntas. O órgão
das Nações Unidas para habitação calcula que 4 de cada dez famílias que vivem
nas cidades do planeta, estão em barracos, sem água, sem esgoto e sem acesso a
serviços básicos. Na África, o numero de favelados dobrou nos últimos 15 anos,
já são 200 milhões, mais do que o total da população brasileira vivendo em
condições que fazem as comunidades pobres do Brasil parecer classe média.
O Fantástico foi a Luanda, capital de Angola. Há apenas 10 anos, o país
saiu da guerra civil, que deixou 500 milhões de mortos. Metade da população tem
até 15 anos. É uma terra de jovens e de nova prosperidade. O petróleo garante
exportações e dinheiro para uma modernização mais do que esperada. E cheia de
contradições.
Enquanto ergue arranha-céus, o povo que fala português ainda tem o
comércio nas ruas. Não há lojas, nem supermercados. É na calçada que Teresa
vende a mercadoria trazida de São Paulo, Brasil. Ela é sacoleira
transcontinental, mas sonha mais! “Meu sonho é ter uma boutique famosa que
aparece na TV”, conta Teresa Miguel Zenguele, comerciante.
O casal gasta 30% da renda pagando escola particular para os dois
filhos. O ensino público não alcança a todos e é de baixa qualidade. “Quando se
tem um filho a gente investe na educação, pra depois a gente ficar sentado e
ver que valeu a pena”, conta Zinga Zenguele, jornalista.
“Ver o filho formado, ser alguém na sociedade”, completa Teresa.
A casa foi construída por eles. se mudaram antes do acabamento para
fugir do aluguel, que chega a R$ 5 mil por mês num apartamento de dois quartos.
Por causa da especulação do petróleo, Luanda é uma das cidades mais caras do
mundo. E sem infraestrutura.
Na casa de Teresa e Zinga, a energia vem de um gerador próprio, movido
a óleo. E isso é a classe média. Em Luanda, sete em cada dez, moram em favelas.
Mas no subúrbio, uma cidade está sendo erguida na savana. Ainda parece uma
cidade fantasma, mas é o maior projeto habitacional da África. Uma cidade para
100 mil habitantes.
Kilamba sai do projeto completa. Vai ter comércio formal, escolas, até
uma universidade. Tudo financiado pelo governo, com juros mais baixos. “Porque
não é todos os dias que estamos envolvidos num projeto dessa dimensão. Começar
uma cidade do zero”, diz Joaquim Israel, administrador.
A construtora é chinesa, e trouxe de lá a maior parte da mão de obra.
Quando Angola precisa tanto de empregos.
Com toda a falta de energia e água, o país está perdendo a oportunidade
de resolver o problema habitacional de maneira sustentável. Aqui não há sequer
aquecimento solar para água.
“Porque a ansiedade das pessoas de quererem ter rapidamente casa, faz
com que também se cometam alguns erros de percurso”, observa Carlos do Rosado,
economista.
Mas eles acertaram construindo prédios e concentrando as pessoas na
cidade.
O modelo da cidade sustentável é a selva de pedra. Quanto mais
concentrada a população, menos recursos são necessários para instalar e manter
a infraestrutura.
Na cidade de arranha-céus, encanamentos, estradas, linhas elétricas
chegam a mais gente percorrendo menos distância.
Nisso, Nova York é exemplo. “Manhattan, com sua grande densidade, faz o
certo”, diz a diretora do programa das Nações Unidas para Habitação. Mas
estamos perdendo isso com a criação de subúrbios, nada sustentáveis. Como Los
Angeles, do outro lado do país. Não por acaso, muito poluída. A megacidade
espalhada obriga as pessoas a percorrer grandes distâncias de carro.
Do outro lado do planeta, na China, o país que passa pelo maior
processo de transferência de gente do campo para a cidade da história da
humanidade. Hoje são 750 milhões de chineses nas cidades. Até 2030, serão um
bilhão.
Tianjin, a 100 quilômetros de Pequim, tem 11 milhões de habitantes. Sob
um céu de chumbo, carregado de poluição, sobe uma cidade ecológica. Tem tudo: escolas,
prédios de escritório, shopping centers.
Os moradores vão gastar 40% menos em energia e água do que em prédios
normais. E ainda vão gerar 20% da eletricidade que consumirem. Prédio com
telhados cobertos por paineis solares. Não há um prédio que não seja coberto de
painéis solares.
Ao longo da avenida de acesso, uma usina completa. E turbinas eólicas,
que jogam energia para carregar os ônibus elétricos. Sobre cada poste, uma
placa solar e uma miniturbina.
E essa é uma solução bem esperta. Porque no inverno os dias são
geralmente bem nublados. E aí não dá pra depender da energia solar. Em
compensação, em dias assim, tem vento de sobra.
Até um parque está sendo feito. Dentro de três anos, a ecocity estará
como na maquete: 500 mil pessoas vivendo e trabalhando no local.
O responsável pelo projeto explica que algumas tecnologias são mais
caras do que nas construções convencionais, mas o custo de manutenção menor vai
compensar.
E essa é só a primeira de 500 cidades ecológicas que o governo chinês
pretende construir nos próximos anos. E assim diminuir o impacto do seu imenso
projeto habitacional. A China, nos próximos 20 anos, vai construir 10 milhões
de moradias por ano. É como construir a cada ano uma cidade do tamanho do Rio e
outra do tamanho de São Paulo.
De volta aos Estados Unidos, agora em Tulsa, no Novo México.
No meio do deserto, uma sociedade alternativa que gosta de ser chamada
de hippie chique.
São 70 casas, que não tiram nem energia, nem água da rede. Construtor e
morador, Ron é um empolgado pelo projeto.
“Não gastamos um tostão. Quando a casa fica pronta, não temos conta de
água ou luz para pagar. As casas usam materiais pouco convencionais. As paredes
da estrutura são feitas de pneus empilhados e barro. As outras têm latinhas e
garrafas de todos os tipos em vez de tijolos. Os fundos das casas são
aterrados, para conservar a temperatura e todos os cômodos ficam de frente para
o sol.
Ele explica que no inverno o sol fica mais baixo no horizonte e penetra
até o fundo da casa, aquecendo. Mas no verão fica mais alto, então a casa
recebe menos calor. E se ficar quente demais, há um sistema de ar condicionado
natural. O ar é capturado lá fora, passa dez metros pela tubulação enterrada
sai geladinho.
Eles não abrem mão dos eletrodomésticos, que são tocados a energia
solar ou eólica. Lavadora de roupa e secadora. Mas isso gasta muita energia,
principalmente a secadora. Ele explica que a tecnologia é a solução.
Computadores controlam o uso de água e energia, evitando desperdício.
Um casal se aposentou e foi pra lá. Diz que lá o dinheiro rende mais,
porque não tem contas a pagar. E no meio do deserto, cultiva uma pequena horta,
dentro de casa.
A casa modelo é a do criador do projeto, Michael Reynolds. Porque teve
a petulância de propor fazer casas com lixo, nos anos 70, teve sua licença de
arquiteto cassada. Mas ela foi devolvida, e com honras, quando a
sustentabilidade deixou de ser moda e passou a ser necessidade.
Ele vai um passo à frente. Ele quer provar que a casa pode ser
auto-suficiente também em alimentos, cultiva uvas, bananas e verduras, tomate
direto do pé.
Há flores por toda parte e uma garoa artificial. O mais incrível é que tanto
a horta-jardim quanto a fonte, onde são criados os peixes, são, na verdade, o
sistema de tratamento de esgoto da casa. A água usada, primeiro passa por um
filtro bem artesanal, feito basicamente com pedras e areia. Depois vai para o
jardim, onde o esgoto ajuda a alimentar as plantas. Passa pela fonte e está
limpa o suficiente para voltar para o sistema, onde é usada para a descarga dos
banheiros. E é esse ciclo interminável que permite que uma casa dessas no meio
do deserto possa ser auto-suficiente em água apenas com as chuvas.
O visionário agora quer fazer as casas sustentáveis em escala,
massificar a produção e mostrar que é possível construir uma cidade inteira sem
infraestrutura super cara.
Criatividade e tecnologia podem fazer a família humana morar bem,
desfrutar de todos os confortos e garantir um futuro sustentável.
Fonte: Fantástico